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Como a psicoterapia pode ajudar na automutilação?

Terapia para automutilação
Segundo a revista científica The Lancet Psychiatry, de 2000 a 2014, as ocorrências de automutilação quase triplicaram.

A psicoterapia é muito eficaz para gerenciar e reduzir a automutilação. Isso porque, em suas diferentes abordagens, as intervenções terapêuticas buscam tratar as dores emocionais.

E as dores emocionais são, precisamente, o principal motivo da autolesão.

Pessoas que ferem a si mesmas estão lidando com sensações de sobrecargas mentais.

Elas procuram expressar ou, de algum modo, minimizar suas angústias.

O comportamento de automutilação ocorre porque parece a alternativa possível para trazer algum alívio.

Não resolve o problema, mas o transfere para uma dor concreta, visível, que comunica e distrai da dor que perturba os pensamentos.

De certa forma, portanto, o autodano físico é uma válvula de escape, que traz um controle temporário sobre o turbilhão de emoções negativas.

A psicoterapia — em especial a terapia cognitivo comportamental (TCC) — ajuda a pessoa a entender o que está sendo dito por meio dos cortes, queimaduras e outras autoagressões.

“As terapias cognitivas e comportamentais (TCC) são as mais promissoras no tratamento da automutilação não suicida em vários contextos. 
Uma forma de TCC, a Terapia de Resolução de Problemas, foi um dos primeiros tratamentos para automutilação deliberada a ser avaliado por meio de ensaios clínicos. 
A Terapia de Resolução de Problemas envolve treinamento de habilidades e de atitudes necessárias para promover a resolução ativa de problemas. 
O tratamento com a Terapia de Resolução de Problemas concentra-se em atingir os seguintes objetivos: 
1. Desenvolver ou aprimorar uma orientação positiva para o problema e diminuir uma orientação negativa; 
2. Treinamento em resolução racional de problemas (ou seja, definição e formulação do problema, geração de soluções alternativas, tomada de decisão e verificação da solução);
3. Reduzir a evitação da resolução de problemas, bem como a tomada de decisão impulsiva e descuidada. 
Dentro deste modelo, a automutilação não suicida é conceituada como uma solução disfuncional para os problemas. Assim, propõe que, dispondo de melhores atitudes e habilidades de resolução de problemas, a pessoa será levada a uma menor dependência da automutilação para lidar com os mesmos.”[1]*

O terapeuta compreende que a automutilação representa um mecanismo de enfrentamento.

Seu propósito, como profissional, não é julgar essa escolha. Mas, sim, promover o encontro de outros mecanismos — mais funcionais, saudáveis e satisfatórios.

Talvez, por exemplo, a pessoa recorra aos cortes na pele quando enfrenta rejeição.

O papel da psicoterapia é ensinar habilidades de enfrentamento diante desse sentimento, de modo que o autodano não se imponha como única opção.

“O treinamento de habilidades provavelmente será central para o tratamento de automutilação. O treinamento deve se concentrar em melhorar a regulação emocional, resolução de problemas, habilidades interpessoais e de comunicação.”[1]*

Lógico, a pessoa que fere a si mesma percebe que poderia lidar com suas aflições de outra maneira.

Porém, o comportamento é sempre algo que adquirimos e somos induzidos a repetir, quando não nos ocorrem alternativas imediatas para substituí-lo.

Se a automutilação funciona para promover alívio — para extravasar e reduzir a dor psicológica — é preciso não apenas saber que existem outros caminhos para o mesmo efeito. É fundamental conhecer quais são esses caminhos. E isso se dá com aprendizado.

O psicólogo tem plena noção dessa dificuldade.

Assim, seu trabalho consiste em escutar e respeitar tanto as dores emocionais quanto seus reflexos no corpo.

E, entre eles, ajudar a construir uma ponte com novas (e mais assertivas) estratégias.

Por que é importante fazer terapia para a automutilação?

Fazer terapia para a automutilação tem o objetivo de resolver o impasse do comportamento recorrente.

Comportamentos recorrentes se tornam hábitos. E hábitos, sabemos, podem ser bem difíceis de mudar.

Todos nós já passamos pela experiência de tentar nos livrar de um mau hábito.

Percebemos que, entre o propósito e a prática, havia a necessidade de um dedicado esforço.

Fomos atrás de recursos, conhecimento, ajuda.

Agora, transfira essa percepção para o entendimento daquele que deseja parar de se automutilar.

Ele também precisa de recursos, conhecimento e ajuda.

Mas existe um complicador em sua condição: diferente daqueles que falam mais livremente sobre seus desafios, ele guarda muita culpa ou vergonha sobre seu comportamento.

A automutilação não é um assunto banal, que pode vir à tona sem cuidados.

É difícil para alguém explicar suas feridas.

E quando essas feridas são físicas e emocionais, a situação é ainda mais complicada.

Sozinho — ou ouvindo pessoas que, por mais que se importem, pouco conseguem contribuir para a superação do problema — dificilmente o autoagressor encontra saídas.

Consulta com psicólogo para tratamento de automutilação
Há algumas maneiras de ajudar quem está passando por esse problema: não brigue, aproxima-se, ajude a procurar um profissional qualificado e tenha paciência.

Conversar com um psicólogo é o melhor conselho que alguém que pratica automutilação pode receber.

Porque, ao aceitar essa sugestão, ele já estará caminhando para as respostas das quais precisa.

Se sentirá mais seguro para comunicar sua condição, pois sabe que fala com um profissional.

Também se sentirá protegido pelo sigilo entre psicólogo e paciente.

E, acima de tudo, encontrará um ouvinte apto a realmente entender sua história.

A terapia resolve a automutilação?

Não há medicamento ou terapia que resolvam, sozinhos, a automutilação.

Afinal, qualquer tratamento que visa trazer benefícios para a saúde — seja física ou mental — depende do compromisso do paciente em relação ao que lhe foi indicado.

Isso não deve soar intimidador.

Ao contrário: significa que aquele que busca solução terá ao seu dispor as estratégias. Mas isso não o transforma numa pessoa robotizada.

Sua autonomia de escolhas continua lhe pertencendo. Seus pensamentos e sentimentos não deixam de existir.

As mudanças no comportamento e a quebra nos padrões de crenças são obtidas com aprendizado — não com implante que anula a personalidade.

“Intervenções cognitivas e comportamentais são as mais promissoras no fornecimento de terapia para adolescentes que vivenciam a automutilação não suicida. Por exemplo, estratégias cognitivas — como questionamentos socráticos e registros de pensamentos — abordam crenças autodepreciativas e distorcidas sobre automutilação.”[1]*

Automutilação pais precisam se preocupar com o humor dos filhos
É muito comum que as pessoas que se automutilam tentem esconder o que realmente estão passando.

Também por isso é crucial ter em mente que o tratamento para a automutilação se dá por meio de um processo contínuo.

É natural que a superação do transtorno se dê aos poucos. Com a descoberta das melhores estratégias que funcionem para sua experiência. Com a percepção das causas e gatilhos de sua automutilação. Com a abordagem psicoterapêutica adequada às suas questões.

“O tratamento pode precisar se concentrar em fatores físicos.
As preocupações com a imagem corporal, bem como a alienação do corpo, podem precisar ser abordadas diretamente para alguns indivíduos que praticam autolesões.
Além disso, o autocuidado físico e o exercício são promissores como componentes importantes para o tratamento.”[1]*

Já que não somos iguais, precisamos de soluções diferentes. O que funciona para uns, não funciona para outros.

Mas o psicólogo tem ciência da individualidade de cada pessoa que o procura.

Logo, não forçará uma “cura para a automutilação”, como se houvesse uma fórmula predeterminada.

O profissional de saúde mental analisará os progressos e resultados particulares de seu paciente, ajustando a trajetória de tratamento conforme essas singularidades.

Para obter ajuda sobre automutilação

Fique à vontade para entrar em contato com Luana Nodari, psicóloga na Vila Mariana (São Paulo/SP), que também atua com terapia cognitivo comportamental online e neuropsicologia.

Você pode expressar suas dúvidas sobre o tratamento psicoterapêutico para automutilação ou, se preferir, pode agendar uma consulta.

Referências:

[1] Psychotherapeutic approaches to non-suicidal self-injury in adolescents (Abordagens psicoterapêuticas da autolesão não suicida em adolescentes). Artigo de Jason J Washburn, Sarah L Richardt, Denise M Styer, Michelle Gebhardt, KR Juzwin, Adriane Yourek e Delia Aldridge. Child Adolesc Psychiatry Ment Health. 2012; 6: 14.

psicóloga Vila Mariana Luana Nodari

Luana Nodari

Psicóloga na Vila Mariana
Atende adolescentes e adultos,
através da Terapia Cognitivo-Comportamental
CRP: 06/112356

* Tradução nossa.

Texto atualizado em 1 de março de 2022.


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Sobre a Luana

Luana Nodari é Psicóloga especialista em Terapia Cognitivo-Compotrtamental (TCC) pela PUC e especialista em Neuropsicologia pelo IPqHC da USP. 
Possui outras formações em áreas da Psicologia e Neuropsicologia em universidades nacionais e internacionais. 

Atualmente, faz atendimentos particulares em sua clínica no bairro da Vila Mariana em São Paulo/SP, nas modalidades presencial e online | CRP 06/112356.