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Agressão verbal: o que é gaslighting e mansplaining?

Gaslighting, mansplaining, silêncio, mentiras e humilhações. Saiba identificar a agressão verbal em suas diferentes manifestações.

exemplos de agressão verbal: gaslighting e mansplaining
As agressões verbais podem começar de maneira velada, até saírem do controle.

Para identificar uma agressão verbal é aconselhável ficar atento a recorrência de certos comportamentos que, nem sempre, sugerem uma forma óbvia de violência.

O abuso emocional é qualquer tipo de abuso que não seja de natureza física. Pode incluir tudo, desde abuso verbal ao tratamento silencioso, dominação à manipulação sutil.
— Beverly Engel

Fazendo uso de uma metáfora, podemos dizer que a agressão verbal ocorre como uma erva daninha que cresce sorrateiramente.

Geralmente, não é tão evidente que possa ser percebida nos primeiros momentos.

Ao contrário, ela costuma se confundir com comportamentos normais, brincadeiras e até com demonstrações de afeto — preocupação, amor, cuidado…



Talvez ela fosse menos perigosa se fosse menos velada.

Um grito, um xingamento, logo nos assustam, nos deixam alerta.

Sabemos que situações assim indicam algo de errado. Indicam um tipo de relacionamento que não queremos — nem com um chefe, nem com um amigo e, muito menos, com alguém que deveria ser nossa melhor e mais íntima companhia.

Sim, gritos e xingamentos aparecem. Mas, antes de chegarem, costumam ser precedidos por muitos silêncios cortantes, interrupções antipáticas e humilhações escondidas em “piadinhas”.

A grande chave para identificar uma agressão verbal é descobrir como você se sente naquela situação.

Por exemplo: se você se diverte com um apelido que, a princípio, seria entendido como depreciativo, ótimo. Mas se o seu bom humor não é legítimo e o apelido machuca sua autoestima, a agressão está presente.

Não se engane, a soma de atitudes verbais que deixa uma pessoa se sentindo “pra baixo”, desencorajada a diálogos e amedrontada com possíveis consequências de brigas, é uma agressão debilitante.

E, se fica recorrente, causa severos danos à autopercepção daquele que é agredido. Sua identidade fica em risco. Sua integridade física, também.

O que caracteriza a agressão verbal?

São exemplos de agressão verbal as seguintes situações:

  • Comentários depreciativos.
  • Ameaças.
  • Chantagens.
  • Xingamentos.
  • Acusações ou imposições de culpa.
  • Gritos e acessos de raiva.
  • Críticas degradantes.
  • Exigências ou “pedidos” que soam como ordens.
  • Humilhações (por vezes, em público).
  • Manipulações psicológicas.

A agressão verbal pode ser tão violenta quanto o abuso físico. 

Conviver com alguém que usa as palavras para ferir, manipular ou dominar o relacionamento causa danos severos à autoestima — de tal forma que tudo o que compõe a identidade adoece e sofre.

O que é gaslighting? É uma agressão verbal?

O que é gaslighting
A vítima de gaslighting sufoca sua voz, perde a crença em seus argumentos, raciocínios e interpretações.

Gaslighting é uma agressão verbal, emocional e psicológica. O termo é utilizado em alusão à peça de teatro “Gas Light” (de 1938), na qual um homem manipula detalhes do ambiente da casa, negando as alterações sempre que sua esposa o questiona — levando-a a crer que está perdendo a sanidade.

E como podemos reconhecer essa agressão verbal?

Fora da ficção, o gaslighting se manifesta em mentiras, nas quais o agressor insiste como versão legítima da realidade, fazendo a vítima duvidar de sua própria percepção.

“Gaslighting se qualifica como uma forma de abuso emocional que envolve negar a experiência de uma pessoa e fazer afirmações, como ‘isso nunca aconteceu’, ‘você é muito sensível’ ou ‘isso não é grande coisa’.”
— Ramani Durvasula

Se a insistência nas mentiras, enganos e subterfúgios acontecesse em relações isentas de afeto, provavelmente, não se sustentaria.

Por isso, quem vê de longe acaba vendo melhor.

Mas, quando há um envolvimento amoroso, de qualquer tipo, o lado racional cede.

Para aqueles que consideramos próximos, oferecemos o benefício da dúvida.

O problema é que se nos convencemos de que somos esquecidos, enxergamos coisas que não existem e “escutamos errado”, pouco a pouco assumimos isso como nova verdade.

A dúvida deixa de recair sobre o outro para se tornar um diálogo interno, que questiona a própria saúde mental e emocional.

Inclusive, é possível que, diante do gaslighting, a vítima acabe pedindo desculpas, assumindo a culpa pelo erro.

“É uma tática comum dos abusadores mudar o foco da culpa de seu mau comportamento para a pessoa que estão vitimando.
Um efeito colateral importante de gaslighting é ter sua memória ‘apagada’ após uma briga (porque seu cérebro está tentando protegê-lo da crueldade do abuso), o que resulta em não ser capaz de lembrar como uma discussão começou. Você pode começar a internalizar a ideia de que há algo errado com você e que você fez algo para provocar a situação, pois está cada vez mais abatido e confuso.”
— Shannon Weber

Em resumo, a vítima de gaslighting sufoca sua voz, perde a crença em seus argumentos, raciocínios e interpretações.

O agressor, por outro lado, adquire confiança na sua estratégia, usando-a como recurso cada vez mais frequente.

“As ações de um gaslighter podem não causar danos inicialmente. Com o tempo, no entanto, esse comportamento abusivo contínuo pode fazer a vítima se sentir confusa, ansiosa, isolada e deprimida.” — Juhi Pandey

E mansplaining, o que é? Como identificar essa agressão verbal?

Mansplaining (em português, equivaleria a homem + explicando), é uma agressão verbal caracterizada por um ar de superioridade daquele que fala. Como se presumisse que a pessoa que escuta não tivesse grande alcance intelectual, experiência de vida significativa ou informações dignas de nota.

Há um tom professoral ou paternalista por parte de quem explica, falando coisas que a pessoa já sabe (mas como se ela não soubesse), corrigindo (mesmo que esteja certa) e duvidando da credibilidade do outro.

O que é mansplaining
Xingamentos, gritos e brincadeiras de mau gosto indicam que o relacionamento está com problemas — seja com o nosso parceiro, amiga, chefe ou colega de trabalho.

Lily Rothman, editora da revista Time, define o significado de mansplaining como “explicar sem levar em conta o fato de que quem é explicada sabe mais do que quem explica, o que é geralmente feito por um homem a uma mulher”.

Infelizmente, o mansplaining ainda é comum em ambientes corporativos, em relações familiares e conjugais.

Sem confronto, a agressão se torna um comportamento padrão, que será negado ou “justificado” com veemência, caso apontado.

O silêncio pode ser um tipo de agressão verbal?

O silêncio se converte num abuso verbal quando representa uma espécie de punição, mostrando desprezo às necessidades da outra pessoa.

É o bater de porta, que encerra abruptamente a discussão. É a falta de respostas. É a preocupação gerada pelo “sumiço” sem explicações.

O silêncio dói, humilha, ignora pela ausência.

Por isso, pode tantas vezes vencer. Ora, não queremos a ausência de quem amamos.

Então, damos o “braço a torcer”. Mudamos para evitar novos conflitos. Aceitamos culpas que não são nossas.

Tão violento quanto um tapa, um discurso povoado de ameaças ou cobranças, o silêncio causa feridas emocionais profundas.

A agressão verbal, de qualquer espécie, não pode ser minimizada como “jeito” da pessoa se expressar.

Não é normal, não é saudável e não deve ser aceitável.

Quando conversas se tornam um território árduo, que causa sofrimento ou evitação, o relacionamento precisa ser percebido como abusivo.

O bom convívio, certamente, pode ter seus momentos de vozes alteradas, ânimos aflorados ou opiniões divergentes.

O que não pode ocorrer é esse tipo de situação se firmar como regra — imperceptível, no início; determinante do cotidiano, com o tempo.

Leia também: 5 causas para brigas conjugais e como podemos evitá-las

Efeitos da agressão verbal

Viver um relacionamento povoado por abusos verbais pode levar a vítima a sofrer com outras consequências, tais como:

  • depressão;
  • abuso de substâncias prejudiciais à saúde;
  • declínio da autoestima e autoconfiança;
  • solidão;
  • ansiedade;
  • isolamento ou fobia social;
  • dependência do agressor;
  • culpa e vergonha equivocadas;
  • dores crônicas;
  • transtorno de estresse pós-traumático (TEPT).

“As cicatrizes da crueldade mental podem ser tão profundas e duradouras quanto as feridas de socos ou tapas, mas muitas vezes não são tão óbvias. Na verdade, mesmo entre as mulheres que sofreram violência de um parceiro, metade ou mais relatam que o abuso emocional do homem é o que causa o maior dano.”
— Lundy Bancroft

Dicas para ajudar alguém que vive um relacionamento abusivo

1. Ouça com empatia

Não critique, julgue ou se apresse a dar conselhos.

Permita que a pessoa desabafe e mostre sua compreensão diante da difícil situação.

“O fato é que, se você nunca esteve em um relacionamento abusivo, não sabe realmente como é a experiência. Além disso, é muito difícil prever o que você faria na mesma situação. 
Acho que as pessoas que falam mais sobre o que teriam feito na mesma situação muitas vezes não têm ideia do que estão falando…
Ao invalidar a experiência do sobrevivente, essas pessoas estão defendendo uma imagem de si mesmas que se identificam com força, sem perceber que os sobreviventes de abuso costumam ser os indivíduos mais fortes que existem. Eles foram menosprezados, criticados, rebaixados, desvalorizados e, ainda assim, sobreviveram. 
Aqueles que julgam muitas vezes têm pouca ou nenhuma experiência de vida em relação a essas situações, mas se sentem bem em silenciar as vozes das pessoas que realmente estiveram lá.”
— Shahida Arabi

2. Eduque-se sobre o assunto

Você só entenderá os motivos que dificultam a ruptura de relações abusivas se compreender como agressores enredam suas vítimas.

3. Não permita que a pessoa se sinta culpada

Reafirme, insistentemente, que a vítima não é responsável pelo comportamento do abusador.

É importante enfatizar isso nas conversas, mesmo que a pessoa pareça convencida do contrário.

4. Deixe a pessoa segura de que você acredita nela

Jamais minimize o comportamento do abusador, levando a vítima a parecer “exagerada” ou “muito sensível.” Isso é exatamente o que o agressor já faz.

“Geralmente, em um relacionamento verbalmente abusivo, o agressor nega o abuso. O abuso verbal na maioria das vezes ocorre a portas fechadas. O abuso físico é sempre precedido por abuso verbal.”
— Patricia Evans

Mais importante: incentive a vítima do relacionamento abusivo a buscar apoio psicológico.

Possivelmente, ela já estará muito fragilizada ao conversar com você.

Logo, é fundamental que ela possa resgatar sua autoconfiança e autoestima, a fim de superar os traumas ocasionados pela relação — e encontrar meios para se desvencilhar dos comportamentos tóxicos.

Nesse sentido, a psicoterapia, sem dúvida, oferece essencial suporte.

Para saber mais

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“Você não é a escuridão que suportou. Você é a luz que se recusou a se render.”
— John Mark Green

psicóloga Vila Mariana Luana Nodari

Luana Nodari

Psicóloga na Vila Mariana
Atende adolescentes e adultos,
através da Terapia Cognitivo-Comportamental
CRP: 06/112356


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Este post tem 3 comentários

  1. Solange

    O que fazer quando vc percebe que está sofrendo abuso verbal ,ou agressão verbal ??? O que devemos fazer

    1. Luana

      Oi Solange. É importante sempre procurar ajuda especializada, para fortalecer a autoestima, que é um dos motivos pelo qual a situação tende a se repetir. Se manter próxima de uma rede de apoio como, amigos e familiares também é muito importante nesse momento.

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Sobre a Luana

Luana Nodari é Psicóloga especialista em Terapia Cognitivo-Compotrtamental (TCC) pela PUC e especialista em Neuropsicologia pelo IPqHC da USP. 
Possui outras formações em áreas da Psicologia e Neuropsicologia em universidades nacionais e internacionais. 

Atualmente, faz atendimentos particulares em sua clínica no bairro da Vila Mariana em São Paulo/SP, nas modalidades presencial e online | CRP 06/112356.