Saiba o que você tem a ganhar quando dá mais chances à espontaneidade em sua rotina. E aprenda alguns truques para torná-la mais frequente.
Conteúdo que você vai encontrar neste texto:
- Importância de ser espontâneo: benefícios que a espontaneidade promove
O que significa ser uma pessoa espontânea?
Espontaneidade é o que experimentamos quando desligamos o piloto automático. É sinônimo de diálogo interno atento ao momento — que estimula a expressão da vontade e da verdade mais íntima.
Podemos dizer, então, que somos espontâneos sempre que agimos com naturalidade, sem medo de constrangimentos e julgamentos.
Em outras palavras: a espontaneidade nos conecta com as oportunidades, tal como elas se apresentam.
Descarta a necessidade de tantos planejamentos, regras e padrões de comportamento estagnados.
Nos liberta do tédio.
Interrompe o fluxo daquelas escolhas que repetimos — por puro comodismo — que já não trazem nada de novo ao nosso dia a dia.

John McLaughlin
”… a espontaneidade conduz o indivíduo a uma resposta adequada para uma situação nova ou a uma resposta nova para uma situação antiga.” — Jacob Levy Moreno
Quando a espontaneidade encontrou vez, em sua vida, nas últimas 24 horas?
Essa pergunta, aparentemente simples, é — na verdade — uma preciosa provocação.
Tire um tempo para pensar sobre esse questionamento.
Revise suas ações e escolhas.
Não descarte nenhum aspecto.
Evite procurar por eventos grandiosos ou atos pitorescos.
É nos detalhes e sutilezas que nos revelamos mais.
Por exemplo:
- Acaso você fez um percurso diferente ao ir para o trabalho?
- Vestiu uma peça de roupa que, há muito, esperava oportunidade de estreia?
- Ousou experimentar um sabor desconhecido ao pedir sua refeição?
- Arriscou começar a assistir a uma série, da qual nunca ouviu falar?
Esses exemplos podem parecer bobos.
Porém, quando nos damos conta que respondemos “não” a todas as alternativas… Quando buscamos por um momento espontâneo — ou seja, desapegado de padrões — e não chegamos a um mísero resultado… é interessante pensarmos nos motivos dessa resistência às novas experiências.
“A atividade espontânea é a atividade livre do self e implica, psicologicamente, no que a raiz latina da palavra sponte significa literalmente: de livre arbítrio. Por atividade não queremos dizer ‘fazer algo’, mas a qualidade da atividade criativa que pode operar em nossas experiências emocionais, intelectuais e sensoriais e também em nossa vontade. Uma premissa para essa espontaneidade é a aceitação da personalidade total e a eliminação da divisão entre ‘razão’ e ‘natureza’. Pois somente se o homem não reprime partes essenciais de seu eu, somente se ele se tornou transparente para si mesmo, e somente se as diferentes esferas da vida alcançaram uma integração fundamental, a atividade espontânea é possível.” — Erich Fromm
Por que é tão difícil ser espontâneo?
Em primeiro lugar, precisamos entender que a espontaneidade pode ser associada a um comportamento de risco. Vamos usar uma situação bem simples, para ilustrar esse ponto.
Por exemplo: você está acostumado a pedir o mesmo sanduíche, todas as vezes que vai à sua lanchonete preferida.
Você repete tanto o sanduíche quanto o local, porque sabe exatamente o que esperar da experiência.
É uma escolha segura. Conveniente. E, vamos ser sinceros, abrevia o tempo de raciocínio.
Aliás, seu cérebro adora quando você não perde tempo elaborando novas respostas. Como qualquer outro órgão do corpo, o cérebro também demanda energia para funcionar. E, se ele puder economizar esforços, vai preferir esse caminho.
Sendo assim, a ruptura de hábitos é sempre um desafio.
Por consequência, ser espontâneo pode, a princípio, soar como algo que contraria o instinto de autopreservação.
Ora, por que trocar o certo pelo duvidoso?
Por que arriscar a novidade, quando o caminho familiar parece mais fácil?
Vou te apresentar alguns argumentos que, espero, te ajudem a refletir sobre o resultado de fazer escolhas menos “engessadas” em seu dia a dia.
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Qual a importância da espontaneidade, afinal?
Não vamos negar. A repetição de padrões, certamente, tem suas vantagens.
Respostas automáticas são eficientes, pois evitam imprevistos, conferem agilidade e emprestam uma sensação de segurança.
Mas você precisa se perguntar: o que está perdendo quando não dá chances às diferentes opções?
Sugiro que comece considerando os seguintes pontos:
1. A espontaneidade ajuda a desenvolver autoconfiança
Adquirimos autoconfiança quando nos colocamos à prova. Não há progresso na zona de conforto.
Precisamos da novidade para romper limites, descobrir diferentes habilidades e — por que não — preferências mais autênticas.
“Quando enfrentamos nossos limites, quando nos empurramos para além da nossa zona de conforto e no limite do que podemos suportar, ficamos mais conectados com o momento. Esses desafios focam nossas mentes, aguçam nossa consciência e aumentam nossos sentidos, garantindo que nossas mentes não fiquem sobrecarregadas com preocupações e aflições desnecessárias. É nesses momentos que transcendemos a nós mesmos, encontrando uma sensação de clareza raramente experimentada fora da meditação intensa.” — Brock Bastian
Isso não significa que você precisa dizer “sim” para todas as oportunidades.
Siga sua curiosidade. Escute sua vontade. A questão é não reprimi-las, por medo de insatisfação ou julgamento alheio.
Claro, você ficará frustrado em alguns momentos.
Mas a coragem de encarar o desconhecido te deixará mais seguro e animado, diante de outros desafios.
Lembre que ser autoconfiante não é ter certeza do sucesso. Ao contrário. A autoconfiança se constrói quando não cedemos ao medo do fracasso.
Tropeço é virtude de quem ousa caminhar!
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“Ser espontâneo é saber responder com confiança; confiando calmamente que, seja qual for o resultado, você terá uma experiência positiva, embora desafiadora, que levará a uma maior autoconsciência e sucesso.” — Sylvia Clare
2. Ser espontâneo enriquece a experiência de vida
Diga: como você espera ampliar seu repertório de conhecimento enquanto fica estagnado em referências familiares?
Vez ou outra, você precisa desbravar novos territórios!
Permita-se abrir portas que costuma ignorar.
Dê oportunidade a conversas com estranhos. Visite um lugar que te instiga, mas sempre deixa para depois. Troque de restaurante. Mude o corte de cabelo. Altere a disposição dos móveis em sua sala.
Enfim, interrompa a programação normal.
Ouça sua intuição e percorra o inusitado.
Você se sentirá mais ativo, desperto e vivo!
“Acho que, às vezes, as melhores memórias são feitas nos lugares mais improváveis. Mais uma prova de que a espontaneidade é mais gratificante do que uma vida meticulosamente planejada.” — J.A. Redmerski
3. Aderir à espontaneidade reduz a ansiedade
Nossa ansiedade nasce da (impossível) ambição de prevermos o futuro.
Queremos ter certeza de que tudo está sob controle e seguirá conforme o planejado.
Por isso, consideramos tão importante contar com planos bem específicos — aos quais não faltam detalhes.
Mas todo esse preparo, sabemos, não é garantia de sucesso.
Lógico, planejar também é essencial.
O problema é quando queremos enquadrar todas as ações do cotidiano num esquema preestabelecido.
A espontaneidade convoca à experiência do presente, tal como ele se apresenta.
Evita que a rigidez de nossos planos nos abata, diante dos inevitáveis imprevistos.
Não há como controlar o fluxo dos acontecimentos.
Passar horas antevendo cada atitude, elaborar respostas prévias para supostas situações do dia, apenas nos deixa estressados, preocupados e inflexíveis.
“Não importa quantos planos você faça ou quão no controle você esteja. A vida está sempre mudando.” — Carroll Bryant
4. A espontaneidade promove criatividade
Você deve conhecer a expressão “sair da caixa”, usada para propor pensamentos inusitados, que conduzam a soluções inovadoras.
Pois bem, a espontaneidade é crucial para alcançar esse objetivo.
No vício das repetições, não há espaço para o diferente.
Presumimos o que é bom, belo e funcional, boicotando a capacidade de ver além.
Quando somos espontâneos, reinventamos o sentido das coisas.
Incentivamos nosso cérebro a fazer conexões experimentais, incertas e, por isso mesmo, criativas.
Desconfie de suas convicções, gostos e gestos mecânicos.
Pequenas modificações nos padrões são suficientes para iniciar revoluções de costumes.
E, claro, tirar você da clausura da caixa.
5. A espontaneidade é um exercício de liberdade e autenticidade
“… conhecemos indivíduos que são — ou foram — espontâneos, cujo pensamento, sentimento e ação são a expressão de si mesmos e não de um autômato. Esses indivíduos são mais conhecidos por nós como artistas. (…)
As crianças pequenas oferecem outro exemplo de espontaneidade. Eles têm a capacidade de sentir e pensar o que realmente é deles. Essa espontaneidade se mostra no que dizem e pensam, nos sentimentos que se expressam em seus rostos. Se alguém perguntar o que causa a atração que a maioria das pessoas sente por crianças pequenas, acredito que, além de razões sentimentais e convencionais, a resposta deve ser a espontaneidade… Na verdade, não há nada mais atraente e convincente do que a espontaneidade, seja ela em uma criança, em um artista ou naqueles indivíduos que não podem ser assim agrupados por idade ou profissão.” — Erich Fromm
6. Pessoas espontâneas são mais felizes
Tudo o que você leu até aqui deve te mostrar essa óbvia conclusão.
Afinal, se você se permite maior diversidade de experiências, reage com mais flexibilidade aos imprevistos e faz da quebra de rotina uma fonte de prazer, é lógico que a felicidade apareça com mais frequência.
A espontaneidade também está associada à emoção de surpresa. E, quando a surpresa é positiva, o corpo reage produzindo os chamados hormônios da felicidade. Logo, a sensação de bem-estar é um resultado natural.
Diferente daqueles que imaginam a felicidade como produto de ocasiões grandiosas — um evento importante, viagens de férias e datas comemorativas, por exemplo —, pessoas mais espontâneas não agendam (nem adiam) oportunidades de descobertas e reinvenções.
Elas estão mais atentas ao cotidiano. Por isso, os motivos de alegria se tornam mais acessíveis.
Pessoas espontâneas não esperam a felicidade. Elas se proporcionam felicidades, enxergando em pequenas mudanças um meio para atingi-las.

“A maioria de nós pode observar, pelo menos, momentos da própria espontaneidade — que são, ao mesmo tempo, momentos de genuína felicidade. Quer seja a percepção fresca e espontânea de uma paisagem, ou o surgimento de alguma verdade como resultado de nosso pensamento, ou um prazer sensual que não é estereotipado, ou a irrupção do amor por outra pessoa — nesses momentos, todos nós sabemos o que é um ato espontâneo e podemos ter alguma visão do que seria a vida humana se essas experiências não fossem tão raras…” — Erich Fromm
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Qual a diferença entre espontaneidade e impulsividade?
Vamos deixar muito claro: espontaneidade não é sinônimo de impulsividade ou imprudência.
Embora as palavras, ocasionalmente, se confundam, podemos definir uma distância entre elas.
Agir de forma espontânea significa ceder a uma curiosidade legítima e despreocupada da excelência de resultados. É acolher o risco, aceitar a dúvida, interromper o padrão do “testado e aprovado”. Porém, nesse processo, não se perde de vista o compromisso com os limites do autocuidado e da preservação da própria identidade.
No caso da impulsividade, aquilo que é feito sem planejamento adquire um contorno mais perigoso. Por isso, usamos o termo quando queremos referir comportamentos que colocam em risco a saúde física, mental ou financeira.
Em resumo, podemos dizer que tanto a espontaneidade quanto a impulsividade são respostas a estímulos do momento. A diferença é que a espontaneidade tem características positivas, criativas, que agregam qualidade de vida. Já a impulsividade diz respeito ao ato impensado, que atende à satisfação do desejo imediato — mas, muitas vezes, acaba resultando em prejuízos, culpa e outras emoções negativas.
Se surgir a dúvida — naqueles momentos em que você não sabe definir se está sendo impulsivo ou espontâneo — pergunte-se:
- O que tenho a ganhar com a experiência?
- É uma escolha nova? Ou, na verdade, é apenas uma versão diferente de um comportamento ao qual já cedi e me arrependi?
- A atitude que desejo tomar pode trazer transtornos ou inconveniências futuras?
Suas respostas vão te ajudar a entender quando se trata de uma boa decisão.
Como ser mais espontâneo?
Paradoxalmente, a espontaneidade, nem sempre, é automática. Deveria ser, já que equivale a impulsos naturais.
Contudo, o apego a regras sociais, condicionamentos e o medo do que os outros vão pensar costuma nos engessar.
Logo, você precisa praticar ser espontâneo.
Precisa desenferrujar!
O que estamos sugerindo?
Exatamente. Que você treine sua espontaneidade.
Faça exercícios para ativá-la.
1. Opte por um trajeto diferente quando voltar para casa
Aja como se aquela rua que você, geralmente, percorre estivesse interrompida.
Não precisa ser nada radical.
Desviar alguns metros de sua rota habitual já provoca bom efeito.
2. Explore seu paladar
Você pode eleger um dia da semana para se “aventurar” em novos sabores.
Se você cozinha, teste uma receita com ingredientes que não costuma consumir.
Pratos típicos de outras culturas ou regiões do país podem te surpreender.
O acréscimo de um tempero, especiaria ou substituição de um único item em suas refeições rotineiras já conta como nova experiência.
3. Diga “sim”
Muitas vezes, estamos tão focados em reproduzir uma rotina regrada que nem percebemos quantos convites rejeitamos.
E por convites devemos entender uma variedade de situações.
Por exemplo, quando alguém te recomenda um filme. Te sugere uma leitura. Ou comenta sobre um serviço que você pode gostar.
Se não abala seu orçamento — e não te desvia de compromissos inegociáveis — por que se apressar a negar as propostas que chegam para você?
4. Pare de procrastinar
Pensou em algo ou tem uma tarefa pendente em sua lista de afazeres? Pare de esperar a hora oportuna para sair da teoria e encarar a prática.
Vá em frente, sem tantas elaborações.
No processo, espontaneamente, você terá insights dos ajustes que precisa fazer e como resolver as coisas da melhor forma possível naquele momento.
5. Surpreenda alguém

Envie uma mensagem para uma pessoa com quem você não fala faz um bom tempo.
Faça uma gentileza para um vizinho (ou mesmo para um desconhecido) assim que a ocasião aparecer.
Aproveite essa dica e seja espontâneo em seu relacionamento também.
Que tal surpreender a pessoa que você ama com aquela sobremesa que ela tanto gosta, em plena terça-feira, sem nenhum motivo especial?
Proporcionar a quebra na rotina de pessoas que estão próximas a você também alimenta seu ânimo para apostar em atitudes originais.
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6. Guarde o telefone celular
Passamos um tempo absurdo conectados às redes sociais.
Por vezes, inclusive, acreditamos que temos pouco tempo livre durante o dia — apenas porque dedicamos nossas preciosas horas de descanso ao smartphone.
Tente deixar seu celular longe do seu alcance em momentos específicos do dia.
Evite, por exemplo, usá-lo logo que levanta da cama.
Você vai se surpreender como esse desapego abre espaço para escolhas mais interessantes.
7. Use, agora, aquele item especial
Pode ser uma roupa, um perfume, uma louça trancada no armário.
Pare de esperar o momento certo!
O seu hoje merece a companhia de algo bonito.
“Somente na espontaneidade podemos ser quem realmente somos.” — John McLaughlin
Agora, atenção: não estou afirmando que você deve descartar todos os seus hábitos em nome de um “espírito de aventura” ininterrupto. Isso nem sequer seria espontâneo!
A ideia que apresento é de equilíbrio.
Desenvolva uma abertura para mudanças e oportunidades, quando essas te parecerem convidativas.
A espontaneidade não implica, de forma alguma, em subverter sua identidade.
Pelo contrário. O objetivo de agir de forma leve, descontraída e fluída é incentivar novos encontros com sua personalidade.
O improviso é amigo do autoconhecimento.
Ouça sua própria voz. Atravesse novas portas. Coloque seus pés e seu pensamento no presente. Faça do instante um acontecimento.
“Espontaneidade é a qualidade de poder fazer algo só porque tem vontade no momento, de confiar em seus instintos, de se surpreender e arrancar das garras de sua rotina bem organizada um pouco de prazer não programado.” — Richard Iannelli

Luana Nodari
Psicóloga na Vila Mariana
Atende adolescentes e adultos,
através da Terapia Cognitivo-Comportamental
CRP: 06/112356