O luto acontece quando algo ou alguém se ausenta, sem possibilidade de retorno.
Quando perdemos uma parte de nós, que estava em outro lugar, e que já não existe mais.
Porque pensamos no luto muito associado à morte de um ente querido. Mas ele também acontece em outros momentos da vida.
No término de um relacionamento, na perda de um emprego, no fim de uma amizade…
Enfim, em tudo aquilo que não tem volta e encerra uma experiência de contato.
“O luto não é uma desordem, doença ou sinal de fraqueza. É uma necessidade emocional, física e espiritual, o preço que você paga pelo amor. A única cura para o luto é o luto.”
Earl Grollman
O luto é o que nos ensina a noção de finitude.
O luto, temporariamente, nos faz estranhar o reflexo no espelho.
Nos perdemos um pouco naquilo que se vai.
Precisamos reinventar a presença perdida.
Ocupar seu espaço.
E o primeiro candidato é sempre o sofrimento.
Sua escolha é natural, pois a ruptura com o mundo, tal como ele era antes, traz a dor de um coração partido — que podemos sentir metafórica e fisicamente.
Certamente, não há um “passo a passo” para lidar com o luto de uma maneira confortável e rápida.
O sofrimento é uma sensação inevitável da vida e, vez ou outra, todos nós nos sentiremos quebrados, despedaçados, inconsoláveis.
Porém, é possível viver a experiência com compreensão.
Nesse ponto, cabe, então, uma primeira dica que pode ajudar:
1. Permita-se sofrer
Não tenha tanta pressa em parecer bem.
Deixe seus sentimentos aparecerem.
Aceite que você está atordoado e que não tem controle imediato sobre a superação do sofrimento.
Não se preocupe tanto em querer ser forte e produtivo.
Dê um tempo para seu caos interno se manifestar.
Reconheça a verdade e a necessidade de passar pelas tempestades do luto.
“Você perderá alguém sem quem não pode viver e seu coração ficará gravemente partido, e a má notícia é que você nunca supera completamente a perda de seu amado. Mas esta também é a boa notícia. Eles vivem para sempre em seu coração partido que não sela de volta. E você supera. É como ter uma perna quebrada que nunca cicatriza perfeitamente — que ainda dói quando o tempo esfria, mas você aprende a dançar mancando.”
Anne Lamott
Comportamentos e reações normais no processo de luto
- sentimentos de culpa;
- incapacidade de relaxar;
- maior irritabilidade;
- apatia;
- isolamento;
- fadiga mental;
- dores no corpo;
- ansiedade;
- pesadelos;
- momentos de tristeza repentina;
- dificuldades de concentração.
“A profundidade e a amplitude da perda são insondáveis e seu impacto total nunca é percebido imediatamente, mas apenas gradualmente ao longo do tempo. A mente tenta nos proteger de um choque inicial quase letal, e muitas vezes ocorre um tipo de anestesia emocional, de modo que podemos nos sentir como se estivéssemos em um filme ou operando em câmera lenta. Sons, figuras e movimentos mudam, e podemos existir em um estado de consciência profundamente alterado.”
Joanne Cacciatore
Não há regras sobre como o luto deve parecer ou quanto tempo deve durar.
O processo de luto é diferente, de pessoa para pessoa.
Mas, ainda que o sofrimento seja absolutamente normal, você pode obter ajuda para lidar com ele.
Converse com pessoas próximas, leia sobre o luto, procure um psicólogo.
Buscar aconselhamento é uma forma de elaborar a dor.
Não se trata de encontrar uma “cura”, mas sim resiliência.
2. Vivencie o processo
“Tantos fatores afetam qualquer manifestação específica de luto: nosso relacionamento com a pessoa que morreu, a forma como ela morreu, o grau de nosso amor e conexão compartilhada, dependência relacional, rituais de morte precoce, como somos tratados durante a perda, como fomos notificados, como os outros interagiram conosco no rescaldo, nossa visão do mundo, nosso caminho espiritual e inclinações, história anterior de perda e trauma, e quem somos em nossa essência. Todas essas coisas influenciam profundamente nossa experiência de luto, e os rituais de luto podem ser igualmente únicos.”
Joanne Cacciatore
Você vai querer se livrar da tristeza o quanto antes.
Afinal, o luto traz um peso imponente em sua rotina, como se sugasse sua energia e capacidade de concentração.
Viver assim é árduo e você anseia pelo dia em que irá acordar longe dessa sensação esmagadora no peito.
Mas, para ficar bem, você precisa entender que há um tempo de recuperação.
Para algumas pessoas, é importante passar um período sozinhas.
Outras, sentem a necessidade de chorar.
Algumas, ficam mais caladas. Outras, mais irritadas.
Tudo é normal e deve ser intimamente respeitado como parte do processo de elaboração do luto.
Seja paciente com sua ferida emocional.
Não exija cura instantânea.
Com o tempo, ela cicatriza.
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“Mas a dor é como água. Ele encontra uma maneira de empurrar qualquer selo. Não há como impedir. Às vezes, você tem que se permitir afundar dentro dela antes de aprender a nadar até a superfície.”
Katie Kacvinsky
3. Seja gentil consigo mesmo
O trauma do luto pode nos levar a um certo abandono dos autocuidados.
Ou seja, quando perdemos alguém que amamos — ou algo que adorávamos fazer —, nosso apetite, sono e hábitos tendem a exibir as consequências.
Ter ciência disso pode fazer a diferença.
Pois, sabendo que a melancolia pode nos entorpecer, temos melhores chances de identificar padrões de enfrentamento negativos — e evitá-los.
Faça um esforço racional para ouvir e dar atenção para seu corpo.
Não espere que um senso de “normalidade” aconteça para, então, voltar a cuidar de si.
Alimentação saudável, descanso adequado e fuga de comportamentos prejudiciais — como abuso de álcool, cigarros, automedicação, desleixo ou excesso de trabalho — lhe ajudarão a construir resiliência.
Atitudes que podem ajudar a trazer conforto durante o processo de luto
- ingresse em um grupo de apoio;
- realize trabalhos voluntários;
- não compare sua dor com a de outras pessoas;
- mantenha-se fisicamente ativo;
- passe algum tempo ao ar livre;
- crie um símbolo ou ritual de lembrança;
- aceite ajuda e convites de amigos.
4. Escreva para quem se foi
Experimente redigir cartas para a pessoa ausente.
Diga o que não teve ocasião de falar antes do adeus. Fale sobre seus dias. Descreva o que o luto faz você pensar e lembrar.
Embora você saiba que ela não irá responder, colocar em palavras aquilo que você está sentindo ajuda a organizar seus pensamentos e, de algum modo, desabafar.
Algumas pessoas se sentem bem compartilhando seus escritos nas redes sociais.
Outras, preferem manter os registros apenas para si.
Não há uma regra. Faça da forma como se sentir mais à vontade.
5. Cultive memórias
Superar o luto não significa buscar esquecê-lo.
Ao contrário, a ideia de superação do luto envolve lembrar a morte — mas deixar de vê-la como um fim absoluto.
É inegável que a presença do que se foi continua em nossa memória.
E podemos usá-la para manter próximos os pequenos momentos felizes.
Algumas pessoas usam peças de roupas que trazem lembranças.
Outras, reveem um filme, revisitam um livro, uma música, um lugar.
Ou repetem algo que faziam juntos, de uma maneira que se sentem na companhia de quem partiu.
O bem que você viveu é parte de sua história.
Não se prive de lembrá-lo.
6. Leia sobre o luto
Aquilo que nos paralisa, quando melhor compreendido, se torna mais gerenciável.
Isso vale para qualquer assunto ou condição, incluindo o luto.
Nos sentimos sozinhos na perda, mesmo a partilhando com pessoas próximas.
Porque cada um experimenta a dor por uma perspectiva diferente. Se comporta diferente.
O modo como cada um lida com suas feridas é algo bastante particular.
Mas, quando você lê especialistas ou boa literatura, você sai do seu recorte específico e entende o luto como uma experiência humana.
Sua individualidade se expande a novos entendimentos sobre a dor.
Encontra palavras que descrevem seu sofrimento.
Descobre que é normal sentir culpa, raiva, desatenção, não chorar ou voltar a sofrer, tempos depois.
Aprende que pode interpretar o luto como um ritual de passagem necessário, cujas ações cabe a você desenvolver e aceitar.
Enfim, ao buscar melhor entender o luto, você se sente mais acolhido, compreendido. E apto a atravessá-lo.
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Luana Nodari
Psicóloga na Vila Mariana
Atende adolescentes e adultos,
através da Terapia Cognitivo-Comportamental
CRP: 06/112356