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Melancolia: características positivas e negativas

A melancolia está associada a sensações de tédio, vazio e apatia. Porém, seu significado e implicações não param por aí. Melancolia também é, muitas vezes, sinônimo de introspecção e reflexão.

Melancolia pode ser o resultado de um momento de reflexão.
A melancolia pode ser o resultado de um saudável momento de reflexão.

Características da melancolia: o lado positivo

Ora, o que há de bom na melancolia?

O que há de positivo em sentir tristeza pela vida?

Podemos começar a traçar respostas afirmando o óbvio: a vida guarda tristezas. E senti-las é o que se espera da capacidade humana — saudável e consciente.

A sensação de melancolia acontece, por exemplo, quando experimentamos um momento nostálgico.

Nesse caso, a alegria vivida é um suspiro saudosista, que dói por não ser agora (e nunca mais) o presente.

Mas, veja, nesse tipo de melancolia há uma espécie de insinuação de felicidade.

Porque a lembrança não sugere rancor ou repulsa.

É uma perda, mas que machuca pela beleza do que foi.

Podemos dizer que melancolia, pensamento, contemplação e reflexão habitam o mesmo universo.

Por isso, é normal nos pegarmos melancólicos enquanto observamos a chuva ou as ondas rebentando no mar.

Por isso, é normal assumirmos um ar melancólico enquanto “digerimos” uma leitura que nos provoca ao autoconhecimento.

Ou seja, a melancolia é positiva quando significa conexão profunda com os sentidos — de lugares, situações, pessoas, sons, palavras, imagens. E, acima de tudo, quando nos leva à maior percepção da própria existência.

Melancolia traz resiliência

No processo de superação de adversidades, é natural se deparar com o sentimento de melancolia.
No processo de superação de adversidades, é natural se deparar com o sentimento de melancolia.

O vídeo “On Feeling Melancholy” (em inglês, mas como legendas em português disponíveis) — produzido por Hannah Jacobs para The School of Life — desenha a melancolia de um modo necessário.

Didático e, ao mesmo tempo, desafiador, o curta (com duração de 3 minutos) reúne verdades indispensáveis, como o seguinte trecho:

“Melancolia é uma palavra pouco usada.

Não significa sombrio ou miserável.

Significa aceitar, sem raiva, que o mundo é cheio de insensatez e ganância.

Que é raro encontrar paz interior. 

Que é difícil viver confortavelmente com aqueles que amamos. 

Que é muito incomum ter uma carreira tanto financeiramente compensadora quanto moralmente gratificante. 

Que muitas pessoas decentes têm seus tempos difíceis.

Diversas vezes, tristeza simplesmente faz muito sentido.”

Assista:

Melancolia é uma emoção estética

Emily Brady e Arto Haapala, no texto Melancholy as an Aesthetic Emotion, pontuam que:

“A melancolia costuma ter um papel em nossos encontros com obras de arte e também pode ser significativa em nossas respostas estéticas ao ambiente natural.”

Os autores observam que o olhar melancólico, tanto sobre as artes quanto sobre aspectos cotidianos, revela “uma emoção madura e reflexiva, cuja experiência fornece uma maneira de lidar com eventos dolorosos da vida humana.”

Note que a melancolia, vista dessa forma, em nada se assemelha a um sinônimo de depressão clínica.

Sim, ela pode ser sombria, uma vez que nos faz acessar o mundo interno — onde existem dissabores, lutos e íntima compreensão de que o mundo externo não é o reflexo perfeito de nossos desejos.

Porém, como pode alguém ter senso de realidade sem se permitir a constatação de que a vida inclui momentos de desencanto, solidão e turbulenta quietude?

Negar o sofrimento não o elimina.

Mas encará-lo, como quem decifra um enigma, pode lhe oferecer o justo reconhecimento como aquilo que é — uma consequência natural da singular jornada de cada ser humano.

Permitir a melancolia faz bem

Que bom quando estamos tão comprometidos com a felicidade que não nos permitimos a rendição à tristeza! Isso é resiliência, é evolução.

Porque, sim, é necessário ver a tristeza sempre como um posto de passagem, nunca um território de estadia.

Mas, assim como a demora não é atitude bem-vinda, a pressa em eliminá-la também não é.

Saiba: é saudável estar triste às vezes.

É bom pensar na saudade. Nas escolhas que não foram feitas. Nas companhias perdidas. Na expectativa arranhada. Na identidade que não se encaixa.

Pois sentir é o que nos permite estar no mundo.

E enriquecemos nossa experiência na medida em que conseguimos identificar contrastes — entre o doce e o amargo; o grave e o agudo; o áspero e o macio.

Tristeza e alegria também movimentam essa gangorra de opostos.

E só podem ser intensamente experimentadas quando ambas são conhecidas.

Se há tristeza, é porque houve entendimento da alegria. Se há alegria, é porque houve o aprendizado da tristeza.

Tristeza não é doença. Melancolia não é doença.

São feridas que resultam do próprio exercício da existência.

Não devem ser temidas como um mal aniquilador.

Apenas precisam ser cuidadas.

“Comecei a entender que sofrimento, decepções e melancolia não existem para nos irritar, nos depreciar ou nos privar de nossa dignidade, mas para nos amadurecer e nos transfigurar.” — Hermann Hesse

Como cuidar da melancolia

Encontrar o lado bom da melancolia é uma questão de equilíbrio.

E tudo começa com a forma como você a enxerga. Se ela te parece extremamente convidativa, ela pode ser sua Medusa.

Nesses casos, quando a melancolia consegue petrificar todos os demais impulsos, ela é justamente aplicada para referir à depressão.

Melancolia em excesso (como tudo na vida) é veneno.

Melhor é ver a melancolia como um caixeiro viajante.

Aquele que aparece, vez ou outra, com coisas novas para nos propor. Coisas que renovarão nossa identidade — se estivermos aptos a pagar o preço que valem.

Cuide da melancolia como se estivesse fazendo negócios com o caixeiro. Busque o que te interessa e o que você tem condições de adquirir. Depois, deixe-o ir embora. Cada um com sua parte da negociação.

Use o que você conquistou.

Use sua barganha com a melancolia para criar — uma nova resposta, um diferente diálogo interno, um genuíno bem-estar com a solidão.

Dê um tempo aos seus silêncios.

Acolha sua introspecção.

Alimente suas dúvidas.

Sem sombras, a luz não revela nada.

“Melancolia é a tristeza que assumiu a leveza.” — Italo Calvino

Características com as quais pessoas melancólicas podem se identificar:

  • Bem-estar com a solidão.
  • Criatividade artística.
  • Grande empatia pelos outros.
  • Lentidão na tomada de decisões práticas.
  • Fácil disposição filosófica.
  • Gosto por emoções profundas.

Características da melancolia: o lado negativo

Sinais e sintomas de melancolia crônica.
Desânimo profundo, insegurança e procrastinação são reflexos negativos de melancolia crônica.

Depois de falarmos sobre o lado bom da melancolia, é justo propor uma contrapartida.

Afinal, a ideia não é “romantizar” nenhum sentimento — isso seria desprezar o impacto de seus excessos.

E esse é exatamente o ponto em que a melancolia deixa de ser uma boa companhia: quando ela não vai embora.

Essa regra se aplica a boa parte de emoções, pensamentos e comportamentos que configuram os chamados transtornos ou distúrbios psicológicos.

É na repetição insistente que um prazer se torna um vício ou uma compulsão. É na monotonia que os humores adoecem.

Assim, o risco da melancolia é o de se estabelecer. E, com isso, determinar o curso das reações e escolhas cotidianas.

Então a pergunta é: quais são os sinais e sintomas de melancolia que devem nos chamar atenção?

Vamos encontrar algumas respostas:

Tristeza permanente

Acontece quando você lida com a tristeza como se ela fosse uma condição inquestionável, intransponível.

Ora, um dos raciocínios que deveria emergir da experiência melancólica é que tudo é transitório.

Nada fica, nada é realmente estável.

E essa noção precisa incluir aquilo que é desagradável.

Afinal, vida é travessia — como ensina Guimarães Rosa.

Isolamento

Sim, a melancolia intermitente é par da depressão. Mas não só.

Porque depressão é uma condição clínica específica, com características bastante debilitantes.

Mas nem todos os excessos melancólicos resultam nessa doença.

É possível que eles sejam menos evidentes.

E o pacto secreto com a rejeição — de si, do mundo, da vida — está nesse patamar.

Nossas recusas podem ser muito silenciosas ou quase imperceptíveis.

Negamos convites, convívios e oportunidades. 

Para os outros, isso pode passar despercebido.

Mas nós, em nosso íntimo, sabemos quando o “não” se tornou um padrão, sem que nada verdadeiramente o justifique — exceto a profunda descrença na felicidade espontânea.

Apatia e inércia

O risco de nos perdermos em inércia é significativo quando abraçamos a melancolia.

Afinal, elas nos faz refletir, contemplar — parar o ato.

Essas pausas são essenciais pois, sem elas, seguiríamos um caminhar robótico.

Além disso, as “pausas” têm seus apelos. Porque, enquanto não agimos, nos sentimos protegidos do erro.

Agora, imagine essa falta de atitude se prolongando por dias, talvez meses. Ou até anos.

Isso definha a vida que — literalmente — precisa de movimento para acontecer.

Sem acordo com o movimento, não levantamos da cama. Repelimos tentativas, conversas, experiências.

Portanto, a melancolia é prejudicial quando implica no excesso de pensamentos (preocupações e revisões do passado), que desencorajam a ação. 

Desânimo profundo

Se “a melancolia é a felicidade de estar triste”, como definiu Victor Hugo, o que lhe resta sem essa parcela de satisfação? Qual o sentido da reflexão, se ela não provoca mudanças?

Levada ao extremo, a melancolia transforma o prazer em desgosto.

É como um vinho raro, que deve ser apreciado no que cada gole revela — e não sorvido com sofreguidão.

Porque não se trata de se fartar, até anular o paladar. Ou até que as sensações adormeçam.

A melancolia não é um monstro a ser anestesiado. E sim um estranho com o qual debater.

Mas, se o encontro se torna vazio, aquilo que há de bom é esquecido.

Fica apenas o costume, sem significado, sem acréscimo. Talvez convertido em culpa e autodepreciação.

Possíveis reflexos negativos da melancolia

  • procrastinação;
  • ansiedade social;
  • depressão;
  • baixa autoestima;
  • apatia;
  • passividade;
  • lentidão;
  • insegurança;
  • pessimismo generalizado.

Como lidar com a melancolia crônica

Se você vê suas atitudes e emoções presas em um círculo vicioso de tristeza e prostração, procure ajuda!

E por que partilhar angústias tão íntimas com alguém?

Porque o olhar do outro saberá ver aquilo que sua melancolia o impede de enxergar.

Onde você vê, hoje, um ponto final, é possível descobrir reticências. E um novo capítulo.

Converse com um psicólogo online

Se você vem adiando a busca por terapia — porque considera o deslocamento para consultórios algo desagradável; porque não gostaria que conhecidos ficassem sabendo de seu tratamento; ou, ainda, porque não encontrou uma abordagem terapêutica que o convença — experimente fazer terapia cognitivo comportamental (TCC) online.

O método (TCC) é objetivo, estruturado, voltado à resolução de problemas do presente.

Para tanto, uma de suas bases é desenvolver a psicoeducação do paciente — de modo que ele possa, com o conhecimento da “engrenagem” entre pensamento/emoção/comportamento, adotar estratégias práticas de enfrentamento.

Na modalidade online, as sessões de TCC podem ser realizadas remotamente, sem nenhum prejuízo à efetividade do processo.

Você pode tirar suas dúvidas sobre psicoterapia online neste post.

Ou, se preferir, pode entrar em contato pelo site e apresentar suas perguntas.

psicóloga Vila Mariana Luana Nodari

Luana Nodari

Psicóloga na Vila Mariana
Atende adolescentes e adultos,
através da Terapia Cognitivo-Comportamental
CRP: 06/112356


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Este post tem 4 comentários

  1. Rômulo Rudá

    Parabéns, foi um texto bem proveitoso. É muito bom ver alguém falando sobre um assunto que, muitas vezes, é deixado de lado, por mais importante que seja.

    1. Luana Nodari

      Boa tarde Rômulo,
      Muito gratificante saber que você gostou do texto. A melancolia é um assunto muito importante mesmo, está associada a sensações de tédio, vazio, apatia, entre outras coisas e uma ajuda profissional pode ser essencial nesse processo.

  2. Anônimo

    Parabéns. Ótimo texto.

    1. Luana Nodari

      Olá,
      Obrigada pelo feedback!

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Sobre a Luana

Luana Nodari é Psicóloga especialista em Terapia Cognitivo-Compotrtamental (TCC) pela PUC e especialista em Neuropsicologia pelo IPqHC da USP. 
Possui outras formações em áreas da Psicologia e Neuropsicologia em universidades nacionais e internacionais. 

Atualmente, faz atendimentos particulares em sua clínica no bairro da Vila Mariana em São Paulo/SP, nas modalidades presencial e online | CRP 06/112356.