Bullying virtual é crime? Quais são as formas mais comuns de cyberbullying? Como denunciar esse tipo de agressão? Confira as explicações no texto.
Fatos e estatísticas sobre o bullying
- Anualmente, mais de 3,2 milhões de alunos são vítimas de bullying.
- Adolescentes são menos propensos a denunciar o bullying do que crianças que ainda não chegaram ao ensino médio.
- Cerca de 37% dos jovens entre 12 e 17 anos já foram vítimas de cyberbullying.
- 83% das vítimas de bullying afirmam que as agressões tiveram impacto em sua autoestima.
- Aproximadamente 30% das crianças vítimas de bullying têm pensamentos suicidas e/ou adotam comportamentos de automutilação.
- O bullying físico é mais comum entre os meninos. Já o bullying virtual, verbal e social afeta meninos e meninas na mesma proporção.
O bullying virtual, também definido como cyberbullying ou bullying digital, é uma verdadeira pandemia.
Seus efeitos, como provam centenas de estudos científicos, são alarmantes.
Não apenas perturbam, profundamente, a autoestima de quem sofre com os ataques, como também podem levar a consequências ainda mais trágicas — dentre as quais, o suicídio.
Porém, os riscos do mundo virtual — e as sequelas das interações que ocorrem nesse ambiente — ainda são pouco compreendidos por pais, professores e pelas próprias crianças e adolescentes que utilizam, diariamente, os recursos da comunicação à distância.
Entendendo a urgência de abordarmos esse assunto, reunimos, neste texto, perguntas e respostas sobre o bullying virtual.
E te fazemos um convite:
Faça parte do debate!
No final do texto, há um espaço para comentários.
Deixe lá sua contribuição.
Proponha uma pergunta. Indique um vídeo, um filme ou uma leitura que tenha um olhar interessante sobre o assunto.
Enfim, fique à vontade para compartilhar suas opiniões!
1. O que é bullying virtual ou cyberbullying?
Há alguns anos, a palavra bullying vem se popularizando e ganhando forma em nosso vocabulário.
Começamos a perceber que certos comportamentos, que trazem medo, humilhação ou vergonha para uma pessoa, não são brincadeiras sem consequências.
Você já foi, alguma vez na vida, vítima de alguma figura que associaria ao típico “valentão”?
Ou foi exposto ao ridículo, de um modo que se sentiu totalmente vulnerável?
Se você tem alguma experiência com momentos assim, imagine que essas cenas se repetem. Às vezes, todos os dias. Isso é o bullying.
O bullying virtual, além de causar constrangimentos que podem se estender à convivência presencial, tem uma característica monstruosa: seu exponencial alcance.
Pais e professores, que não cresceram com o celular como parte integrante do corpo, precisam perceber que as “brincadeiras de mau gosto” — que antes aconteciam num grupo limitado de pessoas (e já eram perturbadoras) — hoje tem o poder de se espalhar entre milhares de pessoas via internet.
Pense em algo desagradável que aconteceu com você ou que disseram a seu respeito.
Agora imagine isso sendo divulgado em mídias sociais. Chegando a diversas pessoas que você conhece. E, possivelmente, outros tantos que você nunca viu na vida.
Essa é a essência do cyberbullying.
2. Qual a diferença entre uma brincadeira normal e bullying virtual?
Se fôssemos responder essa pergunta a uma criança, diríamos que é brincadeira quando:
- a outra pessoa pode rir junto com você da situação;
- vocês podem continuar amigos depois de você ter feito a provocação;
- a pessoa não ficará triste — com ela própria ou com você — por causa de sua piada.
Essa definição explica, tanto para uma criança quanto para um adulto, a diferença entre a graça e a ofensa.
Na comunicação online, os limites entre uma coisa e outra podem ficar mais confusos.
Quando é meme e quando é bullying virtual, por exemplo?
Alguns se divertem, enquanto outros sofrem com o uso de sua imagem.
À distância, não temos como saber a reação do outro.
E não vai ser fácil se desculpar e consertar a situação, caso a pessoa se sinta mal com a publicação.
Na dúvida, deveríamos, no mínimo, aprender a colocar em prática uma capacidade muito aplaudida, mas ainda pouco usada: a empatia.
É um poderoso antídoto do bullying virtual aprendermos a nos colocar no lugar do outro. Nos enxergarmos naquela foto, vídeo, mensagem ou comentário em que ele está sendo atacado, humilhado ou exposto de uma forma cruel.
Se uma pessoa sai ferida de uma brincadeira, é porque não foi brincadeira. Foi bullying virtual.
É isso que precisamos ensinar aos nossos filhos, alunos. E também fazer chegar ao entendimento dos adultos.
Leia também: Dia da Não Violência: o que podemos aprender com Mahatma Gandhi
3. Cyberbullying é crime?
Sim, o Código Penal prevê punições quando o conteúdo compartilhado pela internet implica em:
- calúnia;
- injúria;
- difamação;
- falsa identidade;
- injúria racial ou racismo;
- exposição de imagens de conteúdo íntimo, erótico ou sexual.
Se o autor do bullying virtual for maior de 18 anos, poderá ser penalizado com até 3 anos de prisão e deverá pagar multas.
No caso de menores de idade, o cyberbullying é interpretado como ato infracional e medidas socioeducativas previstas no Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) são impostas.
Além disso, os responsáveis pela criança ou adolescente (incluindo o espaço escolar) podem ser condenados a pagar indenizações por danos morais.
4. Quais são as formas mais comuns de bullying virtual?
O bullying online, tal como o bullying que acontece em situações de contato presencial, pode assumir diversas formas.
Para exemplificar — mas não esgotar o assunto — podemos listar 10 comportamentos típicos de bullies (agressores):
- enviar de mensagens que têm o objetivo de deixar a vítima assustada;
- fazer comentários maldosos ou propagar xingamentos em redes sociais;
- criar ou divulgar imagens e vídeos embaraçosos, sem o consentimento da pessoa que aparece na postagem;
- excluir indivíduos de grupos, eventos ou conversas online, de modo que ela se sinta rejeitada;
- fingir ser outra pessoa para induzir a vítima a se envolver num relacionamento falso;
- criar um perfil fake com a identidade da vítima, usando-o para fazer comentários preconceituosos ou divulgar conteúdos pornográficos (por exemplo), a fim de atrair ataques ou zombaria de terceiros;
- tornar público ou compartilhar, no ambiente online, fotos, prints de conversas íntimas ou informações particulares da vítima;
- espalhar boatos ou acusações mentirosas que impliquem em danos à imagem ou reputação da vítima;
- incentivar crianças e adolescentes a assumirem comportamentos perigosos ou suicidas;
- pressionar ou chantagear crianças e adolescentes para que participem de conversas de cunho sexual impróprio ou enviem nudes.
5. Como denunciar o bullying virtual?
Em casos mais simples, a situação pode ser resolvida garantindo que o conteúdo indesejado seja excluído das plataformas onde foi publicado.
As principais mídias e redes sociais oferecem recursos para agilizar a denúncia de contas ou publicações nas quais se verificam a prática de cyberbullying.
Clique nos links abaixo para saber quais os procedimentos necessários em cada uma delas:
Quando as mensagens, provocações e intimidações assumem contornos mais sérios, além da denúncia na rede, a vítima deve fazer o registro da ocorrência em uma delegacia de polícia.
Para tanto, deve guardar e apresentar as evidências das ameaças, assédio ou constrangimento virtual.
A vítima de bullying virtual também pode obter orientações e contar com a ajuda de instituições especializadas, como a SaferNet — cujos serviços são oferecidos gratuitamente.
6. Como identificar o comportamento de uma vítima de bullying?
Saiba reconhecer os sinais de que seu filho pode estar sofrendo bullying ou cyberbullying:
- ele não fala mais sobre os amigos;
- evita sair de casa ou participar de situações sociais;
- está relutante em ir para a escola;
- ele fica nervoso ao receber mensagens ou notificações no celular;
- fica irritado quando você pergunta o que ele está fazendo online ou com quem está conversando;
- você pode notar que ele está bem mais ansioso, agressivo, triste ou retraído do que o normal.
Por vergonha ou constrangimento, crianças e adolescentes podem ter dificuldade de falar sobre o bullying com seus pais ou professores.
É interessante fazer do bullying (e do cyberbullying) um assunto mais cotidiano, para que os jovens saibam como se prevenir, como agir e como denunciar, caso sejam vítimas ou presenciem agressões.
7. Como conversar sobre bullying com crianças e jovens?
Obras de ficção ou documentários podem ajudar a deixar a abordagem do assunto mais confortável — em casa, na escola ou mesmo entre amigos.
Abaixo, listamos algumas opções que você pode explorar.
10 filmes e séries sobre bullying e cyberbullying
- “Te pego lá fora!” (1987) — filme
- “Meninas Malvadas” (2004) — filme
- “A Classe” (2007) — filme
- “Ponte para Terabítia” (2007) — filme
- “Meu Melhor Inimigo” (2010) — filme
- “Bullying Virtual” (2011) — filme
- “Extraordinário” (2017) — filme
- “13 Reasons Why” (2017) — série
- “Big little lies” (2017) — série
- “Cobra Kai” (2018) — série
Livros sobre bullying e cyberbullying
Confira títulos de livros que abordam o assunto, indicados para crianças, adolescentes, pais e professores:
- Bullying sem blá-blá-blá. De Marcos Meier e Jeanine Rolim. Editora InterSaberes.
“Este é um livro de professores para professores e de psicólogos para pais. Seu objetivo é ser útil para escolas e pais no combate ao bullying. Por isso, os autores vão direto ao assunto por meio de orientações práticas e claras, sem blá-blá-blá.
Esta obra tem dois grandes diferenciais: aponta para o fato de que nem tudo é bullying e apresenta o agressor como alguém que também precisa de ajuda, e não só de punições. Além disso, o livro traz relatos verídicos de pessoas que vivenciaram o bullying na pele.”
— Resenha da Editora InterSaberes
- Os 13 porquês. Se você está ouvindo isso já é tarde demais. De Jay Asher. Editora Ática.
- Todos Contra Dante. De Luís Dill. Editora Companhia das Letras.
“Baseado em fatos reais, este romance conta a história de um garoto que é ridicularizado pelos colegas da escola, que criam comunidades para levar em frente a brincadeira de mau gosto. Infelizmente, a situação é levada às últimas consequências. A narrativa se desenrola por meio de bate-papos, blogs e links. Um retrato duro de uma juventude impiedosa.”
— Resenha disponibilizada no site da Companhia das Letras.
- Bullying: mentes perigosas nas escolas. Como identificar e combater a violência e o preconceito na escola. De Ana Beatriz Barbosa Silva. Editora Principium.
- A Lista Negra. De Jennifer Brown. Editora Gutenberg (Grupo Autêntica).
“O namorado de Valerie Leftman, Nick Levil, abriu fogo contra vários alunos na cantina da escola em que estudavam. Atingida ao tentar detê-lo, Valerie também acaba salvando a vida de uma colega que a maltratava, mas é responsabilizada pela tragédia por causa da lista que ajudou a criar. A lista das pessoas e das coisas que ela e Nick odiavam. A lista que ele usou para escolher seus alvos.”
— Trecho da sinopse do livro, disponibilizado no site da Editora.
- Bullying e cyberbullying. O que fazemos com o que fazem conosco? De Maria Tereza Maldonado. Editora Moderna.
“Quais as fronteiras entre brincadeira, agressão e perseguição implacável? Como contribuir para o uso responsável da tecnologia e das redes sociais? A autora mostra como educadores, pais, crianças e adolescentes podem desenvolver recursos para prevenir as ações de bullying e cyberbullying, integrando-os em um programa eficaz para criar um ambiente escolar em que seja possível aprender e conviver.”
— Sinopse da Editora Moderna.
- A face oculta. Uma história de bullying e cyberbullying. De Maria Tereza Maldonado. Editora Saraiva.
- Fenômeno bullying. Como prevenir a violência nas escolas e educar para a paz. De Cleo Fante. Editora Verus.
- Bullying e cyberbullying. Agressões dentro e fora das escolas. Teoria e prática que educadores e pais devem conhecer. De Edésio T. Santana. Editora Paulus.
“O bullying escolar e o cyberbullying são os focos principais desta obra. O autor apresenta, de forma direta e clara, o que são realmente esses fenômenos, seus tipos, personagens, localização, causas, consequências e estratégias para ações antibullying e anticyberbullying. A leitura deste livro é fundamental para todos, principalmente educadores e pais, que devem conhecer a teoria e a prática desses tipos de agressões, capacitando-se para a orientação de seus alunos ou filhos na busca da convivência em paz.”
— Trecho da sinopse do livro, disponibilizada no site da Editora Paulus.
- Bullying Escolar. De Acordo com a Lei Nacional de Combate ao Bullying (13.185/2015) e outros aspectos jurídicos. De Mariana Moreira Neves. Editora Juruá.
“A presente obra analisa o bullying escolar e suas modalidades, como o cyberbullying, o bullying sexual e o bullying racial e comenta a Lei 13.185 de 2015 que instituiu o Programa de Combate à Intimidação Sistemática (bullying).”
— Trecho da sinopse da obra, disponível no site da Editora.
Luana Nodari
Psicóloga na Vila Mariana
Atende adolescentes e adultos,
através da Terapia Cognitivo-Comportamental
CRP: 06/112356