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Carência afetiva: o que é e como lidar com ela

Como lidar com a carência afetiva
Segundo pesquisas, 28% da população brasileira considera
não ter recebido carinho na vida.

A carência afetiva pode ser definida como um estado em que a pessoa sente que não conta com afeto, atenção, consideração, reconhecimento e aceitação por parte das outras pessoas.

Em função desses sentimentos, é capaz de preferir todo tipo de relacionamento confuso ou falido para não ter que ficar sozinho.

Você se identifica ou conhece alguém com esse padrão de comportamento?

Pessoas que sofrem com carência afetiva excessiva acabam deixando a sua própria felicidade nas mãos do outro, buscando, com a presença de terceiros, suprir um vazio interno.

Normalmente, são indivíduos que não conhecem a si mesmos e acabam dependendo do outro para se sentirem felizes e amados. Por isso, criam uma dependência emocional extrema.

O impacto na vida de quem sofre com esse problema é grande e pode acabar com muitas relações.

Quer entender mais sobre a carência afetiva e como lidar com ela? Então continue a leitura.

Onde surge a carência afetiva?

Muitas vezes, quem sofre com a carência emocional não sabe nem onde surgiu esse problema.

Via de regra, o desenvolvimento deste tipo de comportamento está ligado com a forma como aprendemos a dar e receber carinho na infância.

Crianças que foram abandonadas ou não receberam carinho suficiente na primeira infância tendem a ser mais carentes, pois não sabem como dar e receber afeto.

Por outro lado, o excesso de carinho também pode ser prejudicial para a formação do indivíduo — pois pode deixá-lo com a sensação de ser incapaz de amar a si mesmo e acaba tornando-se muito dependente da aprovação dos pais. A consequência são adultos que condicionam sua felicidade aos outros.


Leia também: Síndrome do ninho vazio: o que é e como superá-la

Sinais que demonstram carência afetiva

sinais de carência afetiva
A carência afetiva se torna um peso para os envolvidos, uma vez que ninguém é capaz de suprir os problemas internos de outra pessoa.

“Depender da pessoa que se ama é uma maneira de se enterrar em vida, um ato de automutilação psicológica em que o amor-próprio, o autorrespeito e a nossa essência são oferecidos e presenteados irracionalmente. Quando a dependência está presente, entregar-se, mais do que um ato de carinho desinteressado e generoso, é uma forma de capitulação, uma rendição conduzida pelo medo com a finalidade de preservar as coisas boas que a relação oferece. Sob o disfarce de amor romântico, a pessoa dependente afetiva começa a sofrer uma despersonalização lenta e implacável até se transformar num anexo da pessoa ‘amada’, um simples apêndice.” — Walter Riso, psicólogo especialista em terapia cognitiva.

Algumas características e comportamentos são comuns às pessoas carentes. Confira alguns sinais que podem indicar carência afetiva:

  • Necessidade de se fazer de vítima para despertar o sentimento de dó nas pessoas.
  • Submissão a qualquer situação para não ficar sozinho.
  • Extrema dependência de outras pessoas para ser feliz.
  • Dificuldade de cultivar relacionamentos longos — pois é muita responsabilidade para o parceiro ter que fazer o outro feliz todo tempo.
  • Ciúme excessivo e necessidade de controle sobre o parceiro.
  • Hábito de se comparar aos outros e se colocar para baixo.
  • Apresentam altos níveis de cobrança e expectativa, pois tem sempre a sensação de que algo de fora está vindo para preencher o vazio.
  • Excesso de cobrança nos relacionamentos, tanto amorosos, como familiares e com amigos.

Você apresenta mais de um desses sinais?

É preciso desenvolver e fortalecer o amor-próprio para conseguir superar definitivamente a carência afetiva.

Entenda como superar a carência com alguns passos básicos.

Dicas para superar a carência afetiva

1. Aprenda a ficar sozinho

Como amar o outro quando você ainda não sabe se amar?

Antes de embarcar em um relacionamento, é preciso aprender a gostar da sua companhia, saber preencher o vazio interior, compreender suas necessidades e anseios.

Escolha um parceiro pela vontade de estar junto, e não porque precisa estar com alguém.


Leia também: Rejeição: saiba como transformá-la em terapia

2. Valorize quem você é

Saber quem você é, seus pontos fortes, fracos, seus valores e crenças é importante para você e para te ajudar a ter relacionamentos mais saudáveis.

Em primeiro lugar, conhecer o que você tem de bom e saber valorizar isso é fundamental para sentir-se bem consigo mesmo.

Descubra o que te faz especial e o que você gosta de fazer e valorize seu momento!

3. Saiba enxergar o amor nos pequenos movimentos

Amor não é apenas em relacionamento afetivo a dois. Na verdade, todo relacionamento entre amigos e familiares também é afetado em casos de carência afetiva.

Para ajudar a superar esse desafio, é importante começar a reconhecer outras formas de expressão de amor e carinho, como entre pais, filhos, irmãos, amigos, colegas de trabalho, etc.

Portanto, observe as atitudes que essas pessoas tomam para te ajudar, tentar suprir suas necessidades e te agradar.

Sinta-se especial e perceba os gestos de afeto com você!

4. Estabeleça metas para sua vida

Melody Beattie se tornou mundialmente conhecida na década de 1980, quando se propôs a discutir a codependência. O termo era pouquíssimo conhecido e, apesar de Melody Beattie não contar com formação em Psicologia, sua obra — Codependência nunca mais: pare de controlar os outros e cuide de você mesmo — trouxe contribuições muito importantes.

Melody usou muito de sua experiência pessoal para redigir seus livros. E tal particularidade confere um valor especial às sugestões que ela apresenta. Afinal, Melody lidou diretamente com problemas de apego e carência afetiva.

Por isso, analise com carinho a proposta que você encontrará logo abaixo. Trata-se de um trecho de outro livro de Melody Beattie — The language of letting go: daily meditations on codependency (A linguagem do desapego: meditações diárias sobre codependência).

Melody sugere que a tradição de fazer listas de objetivos no Ano-Novo (mas que você pode fazer em qualquer momento do ano, obviamente) seja utilizada como estratégia para que a pessoa reconheça — e possa priorizar — suas necessidades e desejos.

O intuito do exercício não é apenas aprimorar o autoconhecimento. Mas, também, criar um recurso extra para que o dependente emocional não perca sua direção, embarcando nos objetivos que os outros (que ele deseja tanto agradar) acabam propondo.

Confira o passo a passo indicado por Melody:

“Redija as metas de Ano-Novo. Explore e descubra o que você gostaria que acontecesse em sua vida este ano. Isso ajuda você a fazer sua parte. É uma afirmação de que você tem interesse em viver plenamente a vida no ano que está por vir. 
Os objetivos nos dão direção. Eles colocam uma força poderosa em ação em um nível universal, consciente e subconsciente. Os objetivos dão um rumo à nossa vida. 
O que você gostaria que acontecesse na sua vida este ano? O que você gostaria de fazer, de realizar? O que você gostaria de atrair para sua vida de bom? Que áreas específicas você gostaria de se desenvolver? Que bloqueios ou problemas em seu comportamento você gostaria de remover?
Que objetivo gostaria de atingir? Coisas pequenas e grandes? Onde você gostaria de ir? O que você gostaria que acontecesse na amizade e no amor? O que você gostaria que acontecesse em sua vida familiar? 
Que problemas você gostaria de ver resolvidos? Que decisões você gostaria de tomar? O que você gostaria que acontecesse na sua carreira? 
Anote as respostas. Pegue um pedaço de papel, reserve algumas horas do seu tempo, e escreva tudo — como uma afirmação de você, de sua vida e de sua capacidade de escolha. E então, guarde esta lista.
O novo ano está diante de nós, como um capítulo de um livro, esperando para ser escrito. Podemos ajudar a escrever essa história estabelecendo metas.*

5. Reconheça os sinais e busque se ajudar

A carência afetiva está intimamente ligada com a necessidade de suprir um vazio interno, causado por falta de amor próprio. Então, é preciso começar a olhar para você, se amar, aceitar suas limitações, reconhecer suas qualidades e valores.

terapia na carência afetiva
O psicoterapeuta fará com que a pessoa enxergue as situações pelas quais vive, de outra forma, aliviando algumas tensões.

Procure ajuda de um psicólogo se você sofre com carência afetiva e emocional para superar esse problema (que não é nada fácil).

O primeiro passo é reconhecer. Mas, mais do que isso, é preciso tomar uma atitude para mudar a sua história e começar um novo capítulo na sua relação com você mesmo.

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psicóloga Vila Mariana Luana Nodari








Luana Nodari é Psicóloga e Neuropsicóloga
Atende em sua clínica na Vila Mariana / SP, adolescentes e adultos,
através da Terapia Cognitivo-Comportamental
CRP: 06/112356

* Tradução nossa.

Artigo atualizado em 21 de dezembro de 2021.


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Sobre a Luana

Luana Nodari é Psicóloga especialista em Terapia Cognitivo-Compotrtamental (TCC) pela PUC e especialista em Neuropsicologia pelo IPqHC da USP. 
Possui outras formações em áreas da Psicologia e Neuropsicologia em universidades nacionais e internacionais. 

Atualmente, faz atendimentos particulares em sua clínica no bairro da Vila Mariana em São Paulo/SP, nas modalidades presencial e online | CRP 06/112356.