A síndrome do impostor é mais comum do que você imagina: 70% de nós a experimentamos em algum momento da vida. É o que afirma o artigo The Impostor Phenomenon (O Fenômeno do Impostor), publicado no International Journal of Behavioral Science.
Você já se sentiu uma farsa — duvidando dos seus méritos e atribuindo suas conquistas à sorte —, com medo de ser descoberto por amigos ou colegas como “não merecedor” de seu trabalho e realizações?
Se essa sensação lhe soa familiar, você entende o conceito de síndrome do impostor.
Em resumo, significa obter sucesso — mas não se sentir digno dele.
Não se trata de modéstia. É uma legítima dúvida interna — que prefere encontrar nas coincidências e acasos as explicações “mais plausíveis” para o bom desempenho.
“Um homem não pode se sentir confortável sem sua própria aprovação.” — Mark Twain
Quem sofre com a síndrome do impostor?
Os estudos iniciais, na década de 1970 (conduzidos pelas psicólogas Pauline Rose Clance e Suzanne Imes), sugeriam que a síndrome acometia, exclusivamente, mulheres bem-sucedidas.
Mas hoje se sabe que a síndrome do impostor não se restringe a gênero, idade ou determinada profissão.
É bastante comum, por exemplo, entre empreendedores, médicos, artistas e acadêmicos.
Também parece recorrente entre representantes de minorias étnicas e raciais, comunidade LGBTQ+ e pessoas economicamente desfavorecidas ou historicamente marginalizadas.
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Qual o perfil psicológico de pessoas com síndrome do impostor?
Valerie Young, renomada especialista no assunto, observa que certas características psicológicas incidem sobre a maior probabilidade da síndrome do impostor.
Ela discorre sobre isso no livro The Secret Thoughts of Successful Women: Why Capable People Suffer from the Impostor Syndrome and How to Thrive in Spite of It (Os pensamentos secretos das mulheres de sucesso: por que pessoas capazes sofrem da síndrome do impostor e como prosperar apesar disso).
Aqui, trazemos um resumo de suas constatações, pontuando perfis mais acometidos pela condição:
1. Perfeccionistas
Com expectativas muito altas sobre sua performance, nunca estão plenamente satisfeitos com seus resultados. Qualquer falha os faz questionar a veracidade de suas competências.
2. Solistas
Pessoas de perfil bastante individualista, que preferem realizar seus trabalhos sozinhos, sem depender de mais ninguém.
A princípio, é claro, essa tendência não significa nada de errado.
O problema é que os solistas se sentem uma fraude quando se deparam com a necessidade de obter ajuda para dar conta de certas tarefas.
3. Especialistas
São pesquisadores compulsivos. Estão sempre em busca de novas certificações e treinamentos, visando aprimorar suas habilidades.
O que os faz desenvolver a síndrome de impostor é que, intimamente, alimentam a ideia de que precisam saber tudo sobre um assunto para provarem sua capacidade.
Qualquer pergunta, para a qual não tenham plena convicção da resposta, pode os fragilizar.
Podem, por exemplo, não se candidatar a empregos para os quais não atendam todos os requisitos. Ou evitar participação em reuniões de trabalho e debates acadêmicos, com medo de falar algo “inexato” — o que, presumem, revelaria sua incompetência.
4. Gênios naturais
Habituados ao aprendizado rápido e fácil, os “gênios” naturais entendem que, se levam mais tempo que o normal para assimilar uma nova habilidade, isso representa um sinal de fraqueza e vergonha.
5. Super-homens ou supermulheres
Geralmente são workaholics. Dedicam mais tempo e esforços que seus pares, a fim de provar que não dignos dos cargos que ocupam.
Desejam sucesso em todos os aspectos da vida — trabalho, relacionamentos, família… — experimentando profunda frustração quando algum desses setores está aquém de suas expectativas.
Quais são os sinais e sintomas da síndrome do impostor?
Você está em dúvida se tem a síndrome do impostor?
Então veja se você se identifica com os seguintes pensamentos e comportamentos:
- Meu trabalho precisa ser 100% perfeito, 100% do tempo.
- Acho difícil aceitar elogios.
- Acredito que as pessoas pensam que sou mais inteligente e capaz do que, de fato, sou.
- Atribuo boa parte de minhas conquistas — pessoais ou profissionais — a “golpes de sorte”.
- Penso que ocupo uma posição privilegiada em virtude de facilitações e não por mérito próprio.
- O que eu faço, qualquer um pode fazer.
- Tenho tendência a dizer “sim” para todas as demandas, ainda que isso me deixe sobrecarregado.
- Sou muito suscetível às críticas — ainda que sejam construtivas.
- Evito expressar minha opinião nas conversas em grupo, por medo de falar algo errado.
- Quando cometo algum engano, o interpreto como prova de que sou uma fraude.
- Procuro ser discreto e não me destacar, pois, se chamar a atenção, posso ser desmascarado e perder o respeito de todos.
- Tenho receio de pedir aumento de salário ou buscar cargos melhores, uma vez que — apesar do reconhecimento e incentivos que recebo — penso que ainda tenho muito a provar, até me tornar merecedor de um novo status.
- É extremamente desafiador me portar como uma pessoa assertiva. Acabo assumindo uma comunicação passiva (ou agressiva), a fim de ocultar minhas falhas.
Esses 13 sinais e sintomas são típicos da síndrome do impostor. Caso você os vivencie com frequência, pode ser útil conversar com um psicólogo.
Afinal, o excesso de pensamentos negativos, autossabotagem e expectativas irreais podem representar um grande empecilho para a qualidade de vida que você, certamente, merece.
“Assim que você confiar em si mesmo, saberá como viver.” — Goethe
Efeitos da síndrome de impostor
Dentre as possíveis consequências da síndrome de impostor, podemos listar os seguintes comportamentos e condições de saúde mental:
- ansiedade social ou generalizada;
- síndrome de burnout;
- dificuldade de exercer liderança;
- estagnação profissional;
- depressão;
- declínio da autoestima;
- sintomas somáticos.
“Nosso medo mais profundo não é sermos inadequados. Nosso medo mais profundo é que somos poderosos além da medida. É a nossa luz, não a nossa escuridão, que mais nos assusta.” — Marianne Williamson
Dicas para se livrar da síndrome do impostor
Para lidar com a síndrome do impostor, considere as seguintes sugestões:
- Aceite feedbacks positivos e internalize elogios de outras pessoas.
- Perceba quais são os pensamentos negativos e crenças limitantes que direciona a si próprio e questione sua veracidade, se atendo aos fatos.
- Valorize suas características únicas — se você se sente uma “exceção” num grupo, veja seu diferencial como capacidade de oferecer contribuições singulares.
- Compartilhe seus sentimentos de inadequação com um amigo de confiança, um mentor ou um psicólogo.
Mais uma dica: pare de se comparar aos outros!
Difícil?
Então tente a direção oposta: compare-se a outras pessoas, de modo consciente e racional.
Não se apegue aos atributos que elas têm e você não.
Veja que, por mais competentes que sejam, também são imperfeitas, não conhecem “todas as respostas” e cometem erros.
Além disso, saiba: muito provavelmente, aquele profissional que você tanto admira já se sentiu um “impostor” em certos momentos.
Afinal, a condição é extremamente comum!
“Se você é inseguro, adivinhe? O resto do mundo também é. Não superestime a concorrência e subestime a si mesmo. Você é melhor do que pensa.” — T. Harv Eker
Se você quiser saber outras informações sobre a síndrome do impostor, confira os posts que compartilhamos em nossas redes sociais (Instagram e Facebook), abordando o assunto.
“Se você ouvir uma voz dentro de você dizer ‘você não pode pintar’, então, por todos os meios, pinte, e essa voz será silenciada.” — Vincent Van Gogh
Luana Nodari
Psicóloga na Vila Mariana
Atende adolescentes e adultos,
através da Terapia Cognitivo-Comportamental
CRP: 06/112356